Desejo que o meu pensar, barlaventejado, nasça da compreensão e
não da busca por solução.
Que o meu compreender se fortaleça nas dúvidas para não pretender-se
como resposta-fim.
Que as minhas dúvidas comecem como consciência, projetem-se
na observação, passeiem pelos labirintos das possibilidades, procurando uma
saída que preencha.
Quero tratar de questões evitadas, provocar a astucia,
questionar convicções frágeis.
Quero descobrir-me enquanto ao outro vou desvendando.
Que na minha crítica eu também me veja (geralmente os críticos não enxergam a si mesmos).
Que as minhas
verdades assumam-se flexíveis, abrindo mão do confortável assentamento de juiz,
para acolher também as incertezas daqueles que vivem com o coração. E que cada um destes achem o seu espaço aqui também, pois num um punhado de pensamentos e/ou num
amontado de conselhos: sempre haverá um dou-te um pouco do que sei no muito
do que sou.
Não quero apontar o lugar para onde se deve ir, mas quero falar da
viagem: da forma como se vai.
Quero transformar o “por fazer” em um “acontecido”.
Quero acontecer enquanto faço.
Que minha embarcação sem
desembarque esteja na oportunidade de superar.
Quero entender que não haverá superação sem me colocar em risco. Que não
haverá um futuro que, assim como um grande trem, satisfaça os frios trilhos de
aço.
Saber, já sei, eu quero é tomar coragem e assumir que não há um
impetuoso destino a se vencer, o vencido é, e sempre será, minha escolha!
Quero superar-me para vencer-me, pois sem estas incertezas da vida, estaríamos
condenados à involução.
Ir adiante não é uma fuga do presente, mas deve ser a ofensiva contra
ele. O “eterno agora” superado contra o caminho percorrido acontece dentro de
nós. Não se encontra paz em viagens, quando não se está em paz consigo mesmo.
Salomão, o sábio Rei de Israel, nos ensina que a beleza do rosto não traz
alegria ao coração, mas é a alegria do coração que dá beleza ao rosto.
O resultado pretendido é, às vezes, o meio pelo qual podemos alcançar
algo muito maior.