Sempre que vejo algumas pessoas
rotulando o outro questiono comigo se elas saberiam, ao menos, o real sentido
da palavra que tentam empregar com “tanta propriedade”. Não sou lexicógrafo,
mas nutro certa paixão pelo real sentido das palavras e, provavelmente, minhas implicações
durante algumas discussões tenham sido exatamente por contestar a colocação equivocada
de determinadas palavras, em especial: adjetivos. E, infelizmente, na maioria
das vezes não se sustentaram.
Na
etimologia a palavra grega hypokrités designava
aquele que escondia a realidade por detrás de uma máscara. São os atores que
vivem uma realidade diferente daquilo que ensinavam por meio de suas
apresentações teatrais. Com o passar do tempo o hipócrita passou a ser
identificado, de forma pejorativa, com aquele cujo o discurso não coadunava com
a sua prática de vida, portanto a vida do hipócrita é uma verdadeira
dissimulação, vive uma teatralidade. Seu fingimento consiste em se escandalizar
das práticas de outrem, quando ele mesmo fez ou faz de forma pior, inclusive...
São hipócritas, portanto, aqueles que fingem que não faz o que criticaram ou
fingem que faz exatamente aquilo exigiram. É
o abismo entre o falar e o fazer. Jesus chamou de hipócritas aquele que
tentaram apontar defeitos pequenos no outro quando eles próprios detinham
enormes defeitos. Os hipócritas são moralistas, mas na prática negam a moralidade.
Geralmente se apegam à subjetividade.
Já
os cínicos têm uma etimologia que remete a uma antiga escola de filosofia, os kynismós, eles acreditavam
que deveria se viver apenas com a natureza negando bens, riquezas, fama, poder,
etc... Assim viviam de forma racional
apenas negando as necessidades naturais e frívolas da alma humana. O cínico,
portanto, age, de certa forma, em sentido oposto ao hipócrita, isto é, fala a verdade de maneira fria e
distante, calculada e desavergonhada, com deboche e descaso. São cínicos aqueles que esfregam a verdade na
cara do outro sem nenhum remorso aparente por aquilo que foi dito, afinal é a
verdade nua e crua. O cínico demonstra o cinismo quando expõe os fatos sem levar
em conta o devido contexto. É o abismo
entre o falar e o sentir. Jesus apontou o cinismo daqueles que exigiam que Ele
cumprisse parte da Lei mosaica/farisaica, quando o contexto pedia humanidade e
empatia. Os cínicos são amoralistas, mas na prática negam a amoralidade. Geralmente
se apegam à objetividade.
O
hipócrita opta por usar máscaras, enquanto o cínico por vendar os olhos. Eis a
diferença.