A minha avó, com meus dois ou três anos de idade, sonhou que eu reconhecia a Jesus Cristo como meu único e suficiente salvador, e me fez o apelo. Eu reconheci. Aos quatro anos de idade, antes de aprender a amarrar os sapatos, já tinha aprendido a dobrar os joelhos para orar.
A fé não me chegou pelos discursos inflamados, mas pelo sussurro insistente do Espírito, que moldava meu coração em silêncio, como o oleiro molda o barro.
A verdadeira fé não escolhe idade; escolhe corações.
Após a passagem posterior para outra igreja, saindo da Batista (que infelizmente fechou) e indo aos 13 anos para a Assembleia de Deus, migrei para o pentecostalismo que, embora sincero e marginalizado, era legalista e, por vezes, profundamente ignorante.
Aos 16 anos fui para uma igreja menor, onde o zelo sincero se confundia com rigores autoritários que sufocavam a graça. Foi então que me ofereceram o título de evangelista. Alegavam que eu tinha o conhecimento e o envolvimento necessários para aquilo.
Contudo, não senti nenhuma exaltação. Senti o silêncio da parte do Espírito de Deus. Não aquele silêncio que pesa como ausência, mas aquele que protege como escudo. Um silêncio que dizia, sem palavras:
— "Filho, não te apresses em vestir mantos que Eu não costurei."
O silêncio de Deus é, muitas vezes, sua forma mais eloquente de falar.
Recusei. Não por arrogância ou falsa humildade, mas porque sabia, desde cedo, que a unção verdadeira não vem do toque de mãos humanas nem de certificados redigidos por secretários em porões com acordos, intenções e segredos, por vezes, obscuros. A verdadeira unção vem do derramar invisível do céu. Lembrava que Davi fora ungido ainda moço, entre irmãos que zombavam, e que Timóteo precisara ouvir: "Ninguém despreze a tua mocidade" (1Tm 4:12).
Sabia também que Saul, coroado aos olhos dos homens, definhou porque o Espírito já o havia deixado. E temi me antecipar nos degraus sagrados, tomando atalhos e sendo contado entre os que carregam cetros ocos e coroas banhadas em ouro de tolo.
É mais fácil conquistar títulos que caráter.
A tragédia irônica não foi minha recusa, mas o que vi depois. Vi homens que mal sabiam distinguir entre "divórcio" e "repúdio" e, assim, condenavam suas ovelhas por desconhecimento histórico-contextual das Escrituras. Vi pessoas recebendo títulos por amizade, parentela, casamentos, dízimos e ofertas maiores. Vi indivíduos neófitos se levantando para ensinar, sem terem passado tempo suficiente sentados para aprender.
Havia, porém, aqueles poucos, cujas mãos cheiravam ao óleo de enfermos e não ao incenso da vaidade, lembrando-me que, mesmo em sistemas falhos, Deus conserva remanescentes.
Vi mulheres que, na pressa pelo reconhecimento e sem nenhum princípio de submissão (arrepiam até o cabelo quando ouvem essa palavra), inventaram cargos como "presbíteras", lexicalmente equivocados (o correto seria episcopisas), frequentemente esquecendo que o serviço floresce melhor no solo da humildade. Em contraste, recordo-me com carinho daquelas senhoras anônimas do círculo de oração, que não tinham um outdoor no peito, mas cujas vozes, ao orarem ou profetizarem, traziam respostas imediatas dos céus pela intimidade que cultivavam com Deus.
Existem credenciais que apenas os céus podem emitir.
E eu, que aos 14 anos já sabia o que era travar guerras espirituais e lutar com demônios reais, via aqueles títulos cintilando como caixões dourados: belos por fora, ocos por dentro.
Enquanto muitos corriam atrás de certificados brilhantes nas paredes, eu me agarrava às credenciais que só os anjos registram: noites em que o chão do quarto ou o meio do mato se misturavam com lágrimas e brasas acesas de orações roucas.
E compreendi — sem manual, sem seminário — que o verdadeiro chamado é como o vento descrito por Jesus: "O vento sopra onde quer; ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem nem para onde vai" (Jo 3:8).
O chamado que vem de Deus não precisa de autorização humana. Não se escreve em pergaminhos, mas nas cicatrizes que são como as impressões digitais da alma.
O céu reconhece mais marcas que medalhas.
Hoje, quando vejo "doutores em divindade" tropeçando nos próprios títulos, recordo com gratidão aquela manhã em que, aos 17 anos, recusei o manto que não era meu.
E entendo que, no Reino de Jesus Cristo, Ele ensinou sobretudo a importância da função e do serviço, mostrando que títulos humanos podem ser como a lanterna de Judas: iluminam o caminho apenas para confirmar a própria vaidade e o abismo egótico.
No dia em que todos os títulos caírem como folhas secas diante do trono, serão essas marcas — e não os crachás — que brilharão na eternidade, resistindo ao fogo da provação.
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