segunda-feira, dezembro 12, 2016

toda era

fecho os olhos,
e vejo você
não somente
pincelada no momento
ou na memória inacabada
mas exposta no esboço
de uma reminiscência ilibada.

escuto o anelo do seu interior
ininterrupta e insistentemente presente
ouço naquela silenciosa pausa
que impera nas vozes de nosso olhar
que grita na noite calada
na aventura periclitante
na manhã badalada
ou na fleuma constante

lembro-me do seu brilho 
envolveu-me com o seu corpo
e seus olhos grudou na minh’alma
embalei em seu fluxo risonho
naveguei no beijo da  sua calma

eterno agora
sempre presente
ausente outrora
logo consente

e que em todas as manhãs
nossas diferenças acordem
e se olvidem de si
e que em mim
toda era
e que em ti
toda época
não resista
à sua presença
e nem a sua
resista à mim




sexta-feira, dezembro 09, 2016

Habito aqui


habito aqui, no importante encontro
onde estar é o resumo do que somos
desejo — quanto mais adentro —
querer em tudo o que supomos
acontecer enquanto acontecemos
habitamos naquilo que conhecemos
na presença que mora na renuncia
na verdade que mente e disfarça
no momento, no apego, na impronuncia
no todo, em parte, no flagra, na farsa

estamos na ausência que não se despede
no fato que não se aceita
dá-se quanto mais se pede
quer-se quanto mais se rejeita

sentimento nunca inteiramente inteiro
vontade jamais ponderada
razão sussurrada
agente sorrateiro
de toda ignorada
loucura despudorada


a confissão está na negação
mas a aceitação não está na culpa
ele encontrou o alvedrio na prisão
ela peca, claudicante, enquanto purga
ambos se inocentam na condenação
ambos se oferecem na regeneração

pele do seu corpo, abraço que acalma
sinto pelo toque o sorriso da sua alma
beleza que jorra
o beijo que implora
para além do aquém
você inteira e mais ninguém