quarta-feira, janeiro 25, 2017

A experiência como maior aliada.


Certa vez ouvi o senador carioca, Magno Malta dizer no Senado, “Experiência é igual dentadura. Só cabe na boca do dono!”. A frase cômica carrega em si um principio: a experiência é intransferível. O político Otto Von Bismarck, conhecido como chanceler de ferro, sentenciou “Os tolos dizem que aprendem com os seus próprios erros; eu prefiro aprender com os erros dos outros”. Aprende-se, portanto que embora o conhecimento possa ser ensinado, estudado e aprendido, a experiência não.
Não há nada mais pedagógico do que usar a palavra experiência após tanto falarmos sobre sucesso, fracasso e superação. Quem experimentou a isto tem mestrado na universidade da vida. Etimologicamente a palavra tem origem latina, “experientĭa.”, e trás o sentido de “conhecimento obtido através de tentativas repetidas”. A palavra latina é trina, composta por: "ex" (fora), "peri" (perímetro, limite) e "entia" (ação de conhecer, aprender ou conhecer). Literalmente pode ser traduzida como o ato de se aprender ou conhecer além das fronteiras, dos limites. Literalmente é o conhecimento obtido pela superação.
Na pós-modernidade observa-se um constante estímulo a aceitação, e um desestimulo à superação do estado do ser. Evita-se o confronto da experiência psicoemocional que é subproduto deste conhecimento acumulado. Um mundo politicamente correto é um mundo com menos experiências e mais pseudoconhecimento. Não há exatidão em ciências humanas, e nenhuma afirmação é um ponto final. Clarice Lispector, em metáfora impecável diz:

“Então escrever é o modo de quem tem a palavra como isca:
a palavra pescando o que não é palavra. Quando essa não palavra morde a isca,
alguma coisa se escreve. Uma vez que se pescou a entrelinha,
a não-palavra, ao morder a isca, incorporou-a.
podia-se com alívio jogar a palavra fora. Mas aí cessa a analogia:
O que salva então é ler distraidamente.”

Ora, a este método de investigação filosófica damos o nome de “fenomenologia”. Fenomenologia, como o nome sugere é o método em que se busca estudar o fenômeno. Seu precursor teórico é Edmund Husserl, ele era filósofo, matemático e lógico. Niels Bohr, físico dinamarquês cravou a seguinte frase: "Nenhum fenômeno é fenômeno até ser observado." Basicamente o que mais importa na experiência é a capacidade impar de orientação fenomenológica além do conhecimento comum. O líder experiente irá re-sedimentar os caminhos que serão percorridos por sua equipe e a partir deles reconstruirá os novos significados da trajetória de sua liderança. Sua influencia agora se sustenta no saber daquele que não detém tão somente o mapa a ser percorrido, mas trás consigo as marcas nos solados que já trilharam por aquele território.
A experiência positiva nos torna eternos aprendizes, o arrogante não aprende nem com mil experiências.
Em um dos debates que coleciono há este — um dos meus prediletos — entre o jovem poeta português Antero de Quental e o velho poeta Antônio Feliciano de Castilho. Em uma reposta memorável e azedada o jovem poeta lhe esfregou a descompostura a baixo:
“ [...]
Paro aqui, Exmo. Snr. muito tinha eu ainda que dizer: mas temo no ardor do discurso, faltar ao respeito a V. Exa., aos seus cabelos brancos. (...)
Levanto-me quando os cabelos brancos de V. Exa. passam diante de mim.
Mas o travesso cérebro que está debaixo e as garridas e pequeninas coisas que saem dele confesso, não me merecem nem admiração nem respeito, nem ainda estima.
A futilidade num velho desgosta-me tanto como a gravidade numa criança. V. Exa. precisa menos cinquenta anos de idade, ou então mais cinquenta de reflexão.
 É por estes motivos todos que lamento do fundo da alma não me poder confessar, como desejava, de V.Exa. nem admirador nem respeitador”.[2]
           O jovem poeta apaixonado pelo realismo defende que o respeito deve ser conquistado por seus princípios e valores, e não imposto por sua idade, hierarquia ou experiência. Não use da sua experiência para ditar escolhas de forma arrogante. Feliciano, o velho poeta, foi professor de Antero de Quental e era adepto do romantismo mais formalista e vazio, e numa correção publica havia usado de sua autoridade para rechaçar os jovens poetas. Pelo que teve a resposta acima. Bons líderes ensinam pelo exemplo. E o melhor exemplo do líder é a demonstração exemplar da capacidade de ouvir, estudar e aprender.

✔ Seja maior do que as suas convicções!
✔ Lidere as suas certezas, e não seja por elas guiado!
✔ Seja livre para se auto desmentir!
✔ Renove as suas confianças!
✔ Questione o seu potencial!
✔ Não se defina todo pronto!
✔ Mergulhe diariamente no imarcescível eu!
✔ Há sempre mais de você a ser inaugurado!


[1] LISPECTOR, Clarice. Água Viva [1972]. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.
[2] Carta Aberta. Bom senso e bom gosto: a resposta de Antero de Quental a Castilho. Coimbra, 2 de Novembro de 1865.

Um comentário:

  1. Sensacional! Como sempre surpreendendo.

    Orgulho de ter em minha vida uma pessoa tão sábia, inteligente e capaz de abordar assuntos e ter percepção de mundo de forma rara.

    - Carolina Madeira -

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