domingo, novembro 22, 2020

OS PACIFICADORES E A CUMPLICIDADE DO SILÊNCIO

 "Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus"

— Jesus de Nazaré, durante um de seus sermões.

 

No original, em grego, o "eirénopoios" foi traduzido para "pacificador", longe de ser o estereótipo daquele que evita ou está alheio aos conflitos, porém é aquele que corajosamente denuncia o conflito e declara os termos de Deus aos homens, de que n'Ele nos tornamos inteiros e fora d'Ele somos partes facciosas.

É preciso ter a coragem de enxergar a realidade da nossa sociedade injusta, dos segregados, dos oprimidos, dos marginalizados e, assim, movidos pela utopia* maior e pelo desejo de ver as coisas em seus devidos lugares, tal qual no Paraíso, sermos os pacificadores, na real significação da palavra.

O pacificador não é emudecido diante da imposição autoritaresca; não é conivente às estruturas persecutórias; não é acomodado pelo esconderijo do servilismo; não é sabujo verborrágico de tiranetes; não é vassalo, pois não reconhece o direito de ninguém encabrestar o outro, sentindo nisso algum privilégio; não faz da obediência um escape existencial para o absentismo ético; não é cúmplice de atrocidades; não é condescendente ao minimizar crueldades; não perpetua vãs tradições; e não é coparticipe de hierarquias e sistemas entorpecidos.

Justamente por isso, em muitos textos sagrados, o pacificador é um agitador do Reino no sistema chamado 'mundo'. O Anticristo virá trazer uma falsa paz. Mas o Reino de Cristo é Justiça, Paz e Alegria. Não há alegria sem paz, e não há paz sem justiça.

O que o pacificador mais deseja não é a mera calmaria para seu conforto pessoal, mas a harmonia idealizada na Criação.

Seja chamado de Filho de Deus: proclame a inteireza em Cristo, a integralidade no repartir do pão e da horizontalidade nas relações humanas de Graça. Condene a facção, o partidarismo, o fanatismo, a segregação, a marginalização e a injustiça!

SOLI DEO GLORIA

P.s. "Utopia" aqui não é no sentido pejorativo de "ilusão", mas no sentido original (etimológico) de "não-lugar", ou seja, como significado de um ideal que não se realizará no agora, no curto-prazo, mas que pode vir a ser construído até o futuro, isto é, a longo prazo.



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