sexta-feira, dezembro 27, 2024

Ed René Kivitz | Feliz Natal a Todes!

Há palavras que libertam, palavras que aprisionam e palavras que dividem. Na trajetória humana, elas moldam tanto a história quanto o presente. O que acontece, então, quando dobramos nossas palavras às correntes daquilo que chamamos de “mundanismo”?

Iniciarei este texto com a admiração que o pastor Ed René Kivitz merece por sua trajetória. Sua capacidade oratória e sua inteligência, ao longo dos anos, lhe garantiram um lugar de destaque no cenário religioso brasileiro e, quando menos, em meu coração. Contudo, o respeito à sua história não é impeditivo para que eu expresse minha estupefaciente decepção. Admirá-lo torna ainda mais urgente a crítica ao uso do termo “todes” em uma de suas recentes mensagens cristãs de “Feliz Natal”.

Palavras não são apenas sons ou sinais; elas carregam história, peso e uma responsabilidade cultural que transcende o imediato. Não, pastor, não é "só uma palavra". Palavras são signos, ponte entre o significante — o som ou a grafia — e o significado — o conceito, a ideia que evocam. Quando dizemos "todos", não apenas falamos; abarcamos. O signo se torna um convite inclusivo em si mesmo.

Imagine um avião em turbulência, o comissário alertando: "Atenção, todos, coloquem os cintos." Não importa o gênero, a identidade ou a expressão individual de cada passageiro: todos entenderão que fazem parte daquele alerta. Por quê? Porque o significado e o significante de "todos" já carregam a neutralidade necessária para incluir cada indivíduo em sua singularidade.

A força da linguagem reside justamente em sua habilidade de transcender divisões aparentes, sem precisar de acréscimos artificiais. Alterar esse funcionamento natural é desmontar o delicado equilíbrio que palavras como "todos" já representam. Essa é a beleza da inclusão na linguagem: ela é implícita, potente e universal.

A língua portuguesa não é brinquedo para aprendente de guerrilha acadêmica, mas é um patrimônio que carrega o DNA de gerações. Alterá-la arbitrariamente não é um ato de inclusão, mas de disrupção. Por que abdicar de seus mecanismos sofisticados — “as pessoas”, “as almas”, “as crianças”, “as personagens”, “a humanidade”, “a nação” — em favor de um neologismo que não agrega clareza, mas sim confusão? Esses termos, femininos na forma, são neutros na função e abraçam a totalidade do ser humano. Da mesma forma, “os humanos”, “os homens”, “o povo”, todos, incluem naturalmente as mulheres e os não-binários.

É aqui que reside também a beleza e a força do Evangelho, por tantas vezes ensinada pelo senhor. Em Cristo, não há homem nem mulher — muito menos binários ou não-binários. Há apenas a humanidade redimida. 

“Deus amou o mundo!”

Essa declaração não fragmenta, não separa, mas inclui todos em um ato de graça universal. A tentativa de modificar a linguagem para abraçar as demandas de um grupo específico é não apenas desnecessária; é contraproducente. Cristo não precisava de pronomes adaptados para que sua mensagem ecoasse até os confins da Terra. Ele precisaria dizer "Vinde a mim, todes vós", pois em seu “todos vós” — cabe a humanidade inteira.

Cristo jamais precisou de artifícios para ser inclusivo. Sua linguagem era direta e universal. Ele não dividia para conquistar, mas multiplicava para repartir. A força de suas palavras não visava agradar às tribos de sua época, mas na verdade que carregam. Não é a língua portuguesa que se tornou um obstáculo; é a nossa ignorância sobre ela que constrói barreiras imaginárias, ou moinhos de ventos, nos quais identitários enxergam seus gigantes opressores. 

É inquietante observar como a bolha da esquerda identitária, alienada, transformou a língua em palco de fetiches acadêmicos.

O pajé, ao falar com sua tribo, acredita dirigir-se ao mundo, carregando o peso das expectativas e da sabedoria que o rodeia. E essa aldeia, em busca de um Jesus progressista, quer encontrar um líder que ecoa sua agenda. Infelizmente, e por isso escrevo esse texto, parece que Ed René Kivitz se candidata a esse papel de pajé tribal. Mas a esquerda não é isso, e tampouco o mundo. O pastor, em sua essência, deveria ser para todos, e não para partes.

Quando o senhor, pastor, usou "todes", não comunicou, fragmentou. Não incluiu, cedeu. O maior perigo não está na palavra em si, mas no precedente que ela abre. Hoje, sacrificamos uma palavra no altar do progressismo; amanhã, serão versículos, livros inteiros das Escrituras reinterpretados por lentes corrosivas, ansiosas por diluir o que é eterno e verdadeiro.

Revoluções linguísticas não são neutras. Elas reconstroem a realidade à imagem e semelhança de seus idealizadores. São importadas. O uso do termo “todes”, por mais inocente que possa parecer, é parte de um catecismo ideológico lacrador e militante que não admite questionamentos. Mas a inclusão que fere a língua é apenas mais uma obsessão ideológica, condenado à irrelevância com o tempo.

Se sua intenção era acolher os não-binários, teria sido mais eficaz lembrá-los de que a língua portuguesa já os contempla na própria suficiência da Graça de Cristo durante a exposição da Palavra. E que o Evangelho, em sua essência, é inclusivo não por ímpetos gramaticais, mas porque Cristo vê o coração e não os pronomes. Cristo não precisa de ideologias reacionárias ou revolucionárias.

A palavra “todes” não ilumina o discurso; ela o obscurece. Não une pessoas; as segrega. Ao adotá-la, pastor, o senhor não fez jus à clareza que sua missão exige. Foi um gesto de cedência, não de coragem.

Deixo aqui minha reflexão: o senhor é, e sempre foi, maior do que os ventos de doutrinas, portanto seja maior que moinhos de ventos ideológicos e suas guerras imaginárias.

Um abraço e um beijo em seu coração,

William Frezze

Cristão

Advogado.





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