quinta-feira, novembro 19, 2020

JESUS COMO GURU IDEOLÓGICO DOS CRISTÃOS DE DIREITA, OS ANÁTEMAS DO EVANGELHO

       O evangelista João, no capítulo seis, nos relata uma passagem muito interessante. Jesus estava no alto e viu, a baixo, uma multidão com fome de pão. Perguntou a Filipe como poderia comprar pão para alimentar a todos. Felipe responde, muito antes da ideia moderna de capitalismo e socialismo que, ainda que trabalhassem por meses, não conseguiriam acabar com a fome de todos. Jesus queria testá-los. Seus conceitos humanos estavam viciados. Jesus então, através de uma doação, ensina o poder da multiplicação. Era um milagre divino que aconteceu através de alguém que compartilhou o pouco que tinha. Era Deus operando na fraternidade.

      Mas ao vê-Lo satisfazendo algumas demandas da vida [a fome], o povo diz que ele era um profeta que haveria de vir ao mundo. A povoação via em Jesus alguém que iria dar um jeito neste mundo e não alguém para dar um jeito em nós e, assim, nos salvar deste mundo. A multidão quis destituí-Lo, rebaixando-O de Deus para rei. Queria tomá-Lo à força do alto do monte para reduzi-Lo a um palácio. Acharam que Seu Governo era temporal e não Eterno. Jesus fugiu do povo que o via como representação de suas convicções ideológicas e expectativas políticas.

      Jesus foge até hoje destas mesmas pessoas que não O entendem como ‘do alto’, mas querem colocá-Lo à direita ou à esquerda de suas paixões mundanas. Qual o cristão verdadeiro que não tem se incomodado com pastores e padres pregando contra pessoas que são da esquerda, centro ou direita? Com a exaltação nos púlpitos a figura de Bolsonaro e Trump ou outros césares? Veem nestes governos a consagração dos costumes ocidentais, a perpetuação da moralidade seletiva e a demonização da fraternidade como se fosse marxismo.

       Além do povo, houve outro alguém que quis colocar os reinos deste mundo como algo a ser oferecido aos pés de Jesus. Seu nome é Satanás. Ele ofereceu todos os reinos, pois ele reconhecia as variações. Poderia ter oferecido o “reino humano”, mas ofereceu “os reinos”, e ainda oferece:

”E o diabo, levando-O a um alto monte, mostrou-Lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo. E disse-Lhe o diabo: Dar-te-ei a ti todo este poder e a sua glória; porque a mim me foi entregue, e dou-o a quem quero”.

 

        Todos os reinos humanos, Satanás disse, são dele, porquanto o homem lhe entregou. Não se surpreenda se Satanás oferecesse o tal “Brasil conservador” na lista de um dos seus reinos, ou você pensa que somente os reinos progressistas são dele? Jesus não morreu por modelos políticos, ele morreu por homens de todos os reinos, tribos, línguas e nações.

           Ao enaltecermos em nossos púlpitos os governos humanos existentes, estamos fazendo como Caim e oferecendo as obras de nossas mãos ao senhor em vez de sermos como Abel e confiarmos apenas no holocausto. Sim, o púlpito é um altar e nós somos sacrifícios vivos em louvor a sua Glória, porquanto rejeitamos os governos temporais deste mundo para vivermos o Evangelho d’Aquele que é Eterno. Quando, porém, no altar, o sacerdote apresenta para a igreja o poder e a gloria de seus líderes humanos, estão sendo não os representantes do Reino de Jesus, mas sacerdotes de Satanás, o deus deste século. Pode soar forte o que digo, mas enquanto não acordarmos para a realidade de que não há esperança neste mundo fora de Jesus, ou aceitarmos isto em parte, isto é, acreditarmos que a salvação do mundo também está no modo de César nos governar, seremos tão pagãos quanto todos os povos que não ouviram falar de Jesus e do seu Evangelho. Seremos como aqueles que confundiram Jesus como expressão política.

           Há uma revelação escatológica que, ao tocar da sétima trombeta, os salvos dirão, do alto, que “os reinos do mundo vieram a ser de nosso Senhor e do seu Cristo, e Ele reinará para todo o sempre”.

         Pode parecer a mesma coisa, mas não é.

         Aqueles que anunciam, junto a Satanás, que os poderes, as glórias, os modelos econômicos, as justiças, as moralidades e as coisas destes reinos do mundo possam ser incorporados ao Reino de Jesus e ofertados aos seus pés, estão em oposição diametral àqueles que dizem que são estes reinos que devam ser de Jesus e para Jesus e não Jesus destes reinos e para estes reinos.

     Muitos cristãos acreditam que lhes cabem o direito de anatematizar o próximo por não adotar um sistema teológico idêntico ao seu. Baseiam-se em Paulo que nos ensinou que qualquer um que nos anuncie um outro evangelho seja anátema (maldito).

          Digo o que Paulo diz: que seja anátema quem trouxer o evangelho para além ou aquém do Evangelho Único, o de Jesus! O Evangelho não é sistema teológico, mas a encarnação do Deus Vivo, sua morte e ressureição.

             O Evangelho AQUÉM é aquele que faz supressão do ensino e do espírito de Jesus nas práticas do Evangelho.

               O Evangelho ALÉM é aquele que faz acréscimos.

          Vejo muitos cristãos, padres e pastores que querem diminuir as implicações do Evangelho a fim de que ele, o Evangelho, caiba nas tradições e nas concessões do modo político de pensar nas várias áreas da vida.

       Deste modo, não sou contra que o cristão seja um cidadão terreno, mas que não confunda sua cidadania terrena com a celestial. Paulo era um cidadão romano, contudo nunca se ouviu dele dizer que Roma deveria ser uma Igreja ou que César deveria passar a representar os cristãos e os bons costumes.

          O Apocalipse trata a Política como uma Potestade; e que, portanto, quem quer que com ela se envolva, saiba que anda no chão da perversidade, da mentira, da traição, do engano, da imagem, e da mais profunda indução à hipocrisia como culto à preservação da imagem e à idolatria como culto ao poder.[1]

           Os cristãos de esquerda, meus irmãos, podem estar equivocados em muitas coisas e eu próprio não sou de esquerda. Todavia observo os cristãos de direita, também meus irmãos, vilipendiando àqueles, dizendo que não são de Cristo, pois não fazem parte do seu ponto de vista político, por não terem votado em Bolsonaro ou por não o apoiar. Isto, meus irmãos, é deslocar Jesus do alto para reduzi-lo ao pensamento moderno de direita; é destrona-Lo do posto de Salvador do mundo, para colocá-Lo como líder partidário, guru ideológico e deus deste século. Quando cristãos de direita dizem que é impossível ser cristão e de esquerda, estão negando a Cruz de Cristo como único meio salvífico e, assim, assumindo que a ideologia politica é um meio de se achegar a Deus.

           Jesus fugiu daquele povo, pois seu caminho não era um trono, mas a cruz. Se você é um cristão de Direita que acredita e profetiza que a salvação do Brasil é ter Bolsonaro na cadeira presidencial e a salvação do Mundo é ter Trump reeleito; ou se você é um cristão de Esquerda que acredita que Lula e Biden são a salvação, então você é ainda pior do que aqueles que queriam coroar Jesus como rei de Israel. Vocês coroariam César como salvador do Mundo, em nome da defesa dos ‘costumes civilizados’ em detrimento dos bárbaros e suas ameaças culturais.

          Ao anunciar os "ideais da direita" como as boas e novas notícias para o mundo, os cristãos, tornaram-se anátemas daquilo que acreditam defender.

          Voltemos ao Evangelho.

SOLI DEO GLORIA

 


 


Referência:


[1] JESUS E O TEMA POLÍTICO: Jesus e Jesuses. Pastor Caio Fábio.

3 comentários:

  1. Voltemos ao evangelho meu irmão. Belíssimo texto William.

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  2. Já disse isso a vc, mas vale ressaltar novamente. Glorifico a Deus pela sua vida meu amigo. Maravilhoso texto.
    Profetizo que estarei na noite de autógrafos do primeiro livro.

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  3. Que triste, a que fim chegamos meu amigo.....

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